Artigo do Encarregado de Negócios no jornal "Noticias" por ocasião do Dia da Victória

PORQUE TEMOS DE RECORDAR A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL?

No dia 9 de Maio, a Rússia celebra o 80º aniversário da Victória na Grande Guerra Patriótica (1941-1945), a parte principal da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A Segunda Guerra Mundial entrou na lenda como o maior conflito armado que abalou quase todos os cantos do planeta. A geografia dos combates vai muito além da Europa, estende-se à Ásia e África e também águas de todos os oceanos. 80% de todos os Estados que existiam naquela altura foram envolvidos no conficto.
As perdas e destruição causadas pela Guerra são incomparáveis. São tão grandes que é impossível calculá-las com exactidão, apenas se pode fazer uma estimativa aproximada. De acordo com os dados dos historiadores, as perdas humanas totais ascenderam a nada menos que 50-60 milhões.
Os responsáveis directos pelo fomento do conflicto são a Alemanha e os seus aliados (tais chamados países do “Eixo”) que, sendo insatisfeitos pelo então estado de coisas, sofrendo do síndrome do seu excepcionalismo, iniciaram uma agressiva redistribuição do mundo. A natureza particularmente brutal da guerra deveu-se ao factor ideológico. Um dos motivos principais de Hitler, que tinha chegado ao poder na Alemanha em 1933, baseavam-se na teoria nazi, puramente racista, centrada na superioridade da única raça ariana.
A tentativa de criar um “Estado racialmente puro” na maioria da Europa e escravizar o resto do mundo levou à perseguição e extermínio de milhões de pessoas, considerados “raças inferiores” pelos nazis. Para realizar em prática estas ideias anti-humanas foram criadas centenas de campos de concentração (campos de morte) pelas quais passaram mais de 18 milhões de mulheres, homens e crianças, e mais da metade delas perderam lá a sua vida em grande sofrimento.
Passados quase dois anos do início da Guerra na Europa, a 22 de Junho de 1941 as tropas da Alemanha nazi, apoiadas pelos recursos humanos e técnicos dos países já ocupados, perfidamente, sem declarar a guerra, invadiram a União Soviética.          O plano estratégico (plano “Barbarossa”) tinha como objetivo infligir uma derrota rápida à URSS e depois subjugar o vasto território para aponderar-se dos ricos recursos minerais e agricolas. Uma parte da população conquistada destinava-se aos trabalhos forçados e outra parte – ao genocídio…
Graças à coragem do Povo Soviético a ideia da desejada “blitzkrieg” (guerra relâmpago) não saiu do papel. Nessa difícil batalha sangrenta de quatro anos, o Exercíto Vermelho com o apoio da heróica população civil não só expulsou o inimigo do seu território, como também deu um contributo decisivo para libertar a Europa do jugo da ocupação nazi, e não será exagerado dizer, para salvar  toda a civilização mundial da catástrofe. O preço da victória foi colossal. As perdas da URSS constituíram 40% das de todos os Estados envolvidos - cerca de 27 milhões de pessoas.
A Segunda Guerra Mundial, o conflito mais sangrento e de maior escala da história humana, tornou-se uma lição trágica para todo o mundo e demonstrou a necessidade urgente de criar um mecanismo que permitisse aos Estados comunicar e resolver problemas globais para evitar a repetição desta catástrofe, manter a paz e a segurança. Foi assim que foi estabelecida a Organização das Nações Unidas.
A Carta da ONU lançou os alicerces dum sistema de direito internacional universal igual para todos os Estados. O respeito pelos seus princípios em toda a sua integralidade e interligação é a única forma de evitar a repetição de páginas terríveis na história da humanidade.
No entanto, infelizmente, passados 80 anos da Victória sobre nazismo, alguns membros da comunidade internacional parecem ter esquecido as consequencias desastrosas da Guerra e tentam rever os seus resultados, não entendendo bem que assim estão a brincar com o fogo.
Os Estados do chamado “Ocidente colectivo”, perseguidos pelos fantasmas da hegemonia global, sempre se sentiram desconfortáveis nos “quadros estreitos” duma instituição juridica internacional, onde eles têm de respeitar os mesmos princípios que o resto do mundo. Assim, no início dos anos 90, no contexto da dissolução da URSS, os países da “minoria global”, liderados pelos Estados Unidos, consideraram-se os únicos senhores do destino do mundo e, como substituto do direito internacional, proclamaram a chamada “ordem baseada em regras”. Contudo ninguém especificou de que regras se trata? Quem as escreveu? Em que se baseiam? Mas o mundo inteiro assistiu às consequências de tal política: atrocidades cometidas na Jugoslávia, Iraque, Líbia, Síria e outros países, que resultaram em escombros e numerosas baixas civis por armas americanas e europeias.
Ainda mais alarmante é obliteração dos Julgamentos de Nuremberga (decisões do Tribunal Militar Internacional, que decorreu na cidade alemã de Nuremberga, entre 20 de Novembro de 1945 e 1 de Outubro de 1946), graças aos quais o mundo passou a conhecer, em pormenores, os horrores da ideologia nazista e os crimes atrozes cometidos pelos seus seguidores. Após a Guerra o nazismo parecia internacionalmente condenado e “enterrado para sempre”. No entanto, logo brotou numa versão um pouco renovoada – neonazismo. Das formações clandestinas chegou rapidamente às elites e começou a influenciar mesmo a vida política. No mundo de hoje podemos observar que em vários países ocidentais, principalmente europeus, se intensificam as tendências para justificar e mesmo elogiar publicamente os nazistas e seus colaboradores. Expandem-se campanhas de falsificação e revisão da história que visam demininuir ou mesmo negar o papel da URSS na Victória na Segunda Guerra Mundial. Multiplicam-se e ganham força grupos extremistas de ideias radicais, realizam-se marchas dos neonazis nas capitais europeias… Uma manifestação eloquente  é a votação na ONU pela Resolução russa  sobre a luta contra a glorificação do nazismo. Em 2024, 53 delegações - países do “Ocidente coletivo”, incluindo a Alemanha, Itália e Japão (antigos países do “Eixo”), votaram contra o documento. Todas estas tendências são uma ofensa grave à memória das vítimas da Guerra, dos heróis que derramaram sangue para libertar o mundo do nazismo.
A Guerra mais sangrenta já demostrou que o nazismo é o caminho destruidor, que traz consigo somente dor, sofrimentos e ruinas. Infelizmente, no mundo de hoje, temos mais um exemplo disto – a Ucrânia que, aliás, há 80 anos lutou como parte da URSS contra Hitler. Em 2014 o golpe de Estado anticonslitucional em Kiev financiado pelo próprio Ocidente levou ao poder as forças nacionalistas radicias.       A sua política e ideologia extremista que eles começaram a inculcar ao povo multinacional resultou de facto na divisão da população, inúmeras mortes e criou a situação da dependência total do país dos seus “instructores”.
É assustador que nem sequer tenha passado um século todas as lições da História pareçam estar esquecidas. Será realmente possível obliterar a morte de quese 60 milhões de pessoas, destruição de centenas de cidades e aldeias? As realidades actuais demonstram que, infelizmente, sim, é possível.
Nesta situação, a única salvação parece ser a luta constante pela memória e preservação da verdade histórica. Já que só aqueles que recordarem o terror da guerra, o preço da victória, os horrores dos campos de concentração nazis, envidarão todos os esforços para prevenir uma nova tragédia.